16-09-2010, 04:33 PM
DIA 15-09-2010
Me atrasei como de costume para levantar e partir de Salta, acho que sai perto das 08:00, depois de colocar um pouco de óleo e lubrificar a corrente. O trecho de Salta, é Jujuy sem novidades. parei no YPF para abastecer, eu pensava que as estradas Argentinas eram iguais as do sudeste do Brasil, onde voce sempre tem a opcao de parar num restaurante convidativo na beira da estrada, engano, nao encontrei um com cara amigavel, ou com pessoas que pararam seu carros neles, resta entao a deliciosa e nutritiva comida do YPF #:-( #:-( #:-( . Abasteci a moto em Jujuy e coloquei 5l de agua no galao q consegui ontem, como nunca havia carregado ele e amarrado na moto, nada mais justo do que testar, enquanto quebrava a cabeca para prender o galao na moto, papei com o pessoal que tb estao na estrada, a principio estao sempre a te apoiar.
Sai de Jujuy e fui em direcao a punamarca, neste trecho é possível ver melhor os Andes, mas a mais 400km de distancia já dá para ver. Fui andando e as montanhas aproximando, aproximando, e quando vi, estava em Punamarca, entrei na cidade e perguntei a um cidadao onde tinha posto de gasolina, ele disse para eu continuar subindo que teria em Ticara, mas nao achei tal cidade, nem placa para ela, já bem me alertava minha irma que na Argentina nao há sinalizacao, e é bem verdade. Continuei subindo e subindo e subindo e quando vi estava no topo dos Andes, até encontrei outro viajante solitário num KLR 650, quando ele viu a ratoeira da Sahara, nem esperou eu chegar perto, já foi gritando e perguntando BRASIL? BRASIL? BRASIL?. Pois é, nessas estradas eu também gosto de ver brasileiro e motociclistas, me dá uma tranquilidade, e ele me contou que estava vindo da California, há 4 meses na estrada, o site dele é <!-- w --><a class="postlink" href="http://www.balaio.com.br/moto">www.balaio.com.br/moto</a><!-- w --> , e que tinha quebrado no trecho do deserto de Jama e havia sido resgatado por cegonheiros paraguaios, ficou três dias em Susques e informou que la nao havia desde entao, comprou 10L de um particular e resolveu voltar, porque nao mais suportava ficar lá.
Disse que eu também, nao tinha combustivel para passar de Susques, nisso apareceu um carro argentino com outro loco gritando BRASIL a 4200m de altura. Era um respeitavel emprendedor do setor hoteleiro da quebrada de Humanhaca, sabendo da falta de combustivel na qual me encontrava. logo ofereceu o tanque do carro, de certo aceitei, mas a modernidade tem seu impecilios, o filtro na boca do tanque nao deixou a mangueira chegar na gasolina.
Lembrando que até esse momento eu estava carregando meus 5L de água desde de Jujuy 8-) 8-) 8-) 8-) 8-), esvazei o galao e peguei dois litros na KLR e segui com o enterro.
A moto até entao estava boa, tinha falhado só um pouquinho nos últimos metros da subida, e o frio nem estava tanto assim e só senti o mau das alturas quando chilenos mascando folha. E assim fui tocando até chegar em Susques. Susques é mais uma cidade esquecida, para nao ter nada lá, falta muito, é deprimente, pense num lugar no meio do nada, coloque casas de barro seco, ruas de areia seca também, uma igreja, uma alfandega e um banco, eu nao entendi como a cidade vive.
Procurei por combustivel na cidade e nao encontrei, na estrada, 3km depois de susques tem dois hoteis, mais amigaveis e do lado de um deles, há um posto, qu também nao tinha combustivel. Nesse eu encontrei 9 carros brasileiros que estavam voltando de Sao Pedro, mendiquei 5L de combustivel e tive a sorte de um deles ser a gasolina, uma TR4, mas o azar do tanque ficar no meio do carro, entao a mangueira nao alcancou.
Como eu já estava sem perpectiva, dei um litro para um local que vinha empurrando a scooter pela estrada. Voltei um pouco para almocar no outro hotel prox. a susques, perguntei por quarto e a dona disse que nao tinha nada disponível, voltei a susques e consegui comprar 5L de um particular, paguei 40 pesos.
Com os 4L qu tinha na reseva, + os 5L comprados eu podia prosseguir para Jama que estava a 120km, o consumo tinha sido de 15km na altitude. Assim o fiz, toquei para Jama.
Andei 46km, e a moto entrou na reserva, esta de 4L, ou seja o consumo havia caído para menos que 10L, o vento era forte contra, o frio incomodava e a perpecitava era de ficar sem combustivel no meio do deserto. Nesta estrada os carros passavam contra a cada 10min no minímo , e nenhum tinha me utrapassado desde que sai de Susques, eu só tinha uma certeza, ia ficar na estrada, no meio do nada. Numa tentativa de melhorar as coisas tirei o filtro de ar e andei mais 10km, pior coisa, a moto ficou horrível e o consumo ficou galático. Parei novamente e coloquei o filtro, eu estava 50Km do Paso de Jama, prox. abastecimento, e 60 km de Susques, ou seja, a melhor opcao era tocar em frente.
Para colocar o filtro, parei numa cidade, como dizia sinalizacao, mas na cidade so havia uma casa, e na casa uma senhora, e a senhora nao tinha combustivel. Decidi ficar ali na estrada e mendigar combustivel, se nao conseguisse até o cair da noite, tinha mais 2h de luz do sol, iria abrigarme do frio e do vento, numa das construcoes vazias da casa da senhora. Consegui para um carro que vinha de Jama, o cara se comoveu com a minha situacao e sabendo ele que a noite a temperatura vai a Zero e o vento diminui a sensacao térmica, se prontificou a voltar a Jama (50km) e voltar até mim e me entregar o combústivel. Mas nao era ele quem estava dirigindo, coisas desses casais modernos, era a patroa quem estava no piloto, e ela nao queria andar mais 100km, ele discutiu um pouco com ela, mas eu notei que o macho ali nao era ele, e antes que ela terminasse com ele e ficasse eu ele no meio do nada, falei que tentaria outro carro ou caminhao, e eles foram embora.
Eu decidi andar até secar o tanque, a mulher do cara me mostrou que a possibilidade de ajuda seria tao maior quanto mais perto do posto eu estivesse.
Assim fui indo e contando os KM, até chegar a 22km do Paso de Jama, onde secou tudo e parou, parou e eu olhei para os lados e nada. Nada, entao resolvi empurrar a moto, adivinha? Consegui nada, nada faria com que eu empurrase aquela moto contra o vento por 22km.
Fiquei ali parado e pensando, tinha mais 30min de sol, conclui que quando o sol fosse embora eu tambem iria, largaria a moto, pegaria a mochila e os galoes, porque nessa hora eu já tinha 2 galoes vazios, o segundo eu consegui com o cara de susques. E continuaria caminhando até o Paso de Jama, que levaria umas 5h, se eu nao conseguisse carona.
Quando estava comecando a desenhar o plano de abandonar a moto, consegui parar um caminhao, vazio, mas nao era cegonha e nem paraguaio. Era um argentino, mas ele aceitou colocar a moto na carreta e me dar carona até Susques, só que nao conseguimos subir a moto na carreta, a inclinacao da rampa era muito alta e nao tinhamos como subir a moto. Nisso ia ficar a ver navios novamente, mas consegui convence-lo a me dar uma carona até Jama. Assim foi, deixamos a moto e a carreta no meio do nada e voltamos com o cavalo, do caminhao. Paguei os 15l de diesel que a crianca gastou para andar 42km e abasteci a Matilde, toquei pela noite adentro, com vento, frio e falha no motor até o Paso de Jama, onde tem um YPF, que novamente tive que comer, e dormir, porque nao tinha quartos disponiveis no YPF. Entao dormir no vestiario do posto, com direito a chave para trancar a porta, mictorio, duas opcoes de sanitarios e 4 pias, mas nenhuma cama, o jeito foi estender a toalha no chao, e dormir, tirei só o protetor de coluna, para suportar o frio do ar,e da ceramica, só com a santa cordura mesmo.
A noite foi triste, dormia 1h ou 2h, acordava com frio pq tinha saído da toalha, ou com dor. E fui levando assim até as 6h da manha.
16-09-2010
Quando sai do vestiario e fui tomar café no amado YPF. Tentei ligar a moto e nada, sorte que o frentista amigo, sabia das coisas e jogou uns 50l de agua quente no cambio, carter. Ai a moto pegou, enchi os galoes com 10L de gasolina e toquei para Sao Pedro, sao 170km de distancia de Jama, com 140Km no meio do deserto, de novo, com vento frio, que parecia cortar as maos, mesmo com luva, luva termica e cirurgica, maldito o dia que economizei 55 reis na luva de esqui. Puto, agora sofre, pensava comigo, cada KM que andava, com medo da moto quebrar pela falta de ar, 140 KM aguniando com cada engasgada que dava por falta de ar no pistao, e engasgava muitas vezes por KM, eu estava a 4200m de altitude, e aquela estrada continuava a subir morro, até onde vai subir? Eu indagava, bravo com os engenheiros! A motinho ia 80 -90km/h falhando, na subida ela pedia para reduzir, chegava aos 60km/h, dizendo nao vai dar 50km, e tome marcha para baixo, ufa, chegou no topo do morro, eu soltava um palavrao, outro morro? para que outro morro? Esse nao vai dar, pensava, ai outro lado dizia, TOLEDO, pensamento positivo PALAVRAO, e passava o morrinho com varias engasgadas. Era isso que fazia eu esquecer do frio nas patas, e quando lembrava que estava para perder os dedos, exagero, eu pensava, por que eu estou aqui? para que? e assim fui tocando.
Enfim chegou na melhor parte dos últimos 800KM , uma descida interminável de 30KM que leva a cidade de Atacama, que delicia foi descer aquilo, pela primeira vez nessa viagem eu tirei uma foto com sabor de vitoria, a foto da placa de BEM VINDO A SAO PEDRO DO ATACAMA.
Vou ficar aqui hj e amanha, amanha vou ver os geisers do tatio e ve se troco o oleo da ratoeria.
Hoje to curtindo um descanso depois destes 4 dias de trabalho.
Abs a todos